terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Quando devo iniciar o desfralde?

Para que se possa abordar o desfralde de maneira adequada é importante entender alguns processos que irão influenciar diretamente no aprendizado do uso adequado do banheiro. O desfralde completo é uma combinação entre a aquisição do controle esfincteriano, ou seja a capacidade de segurar e soltar o xixi de forma voluntária, e o aprendizado do uso correto do banheiro, dentro da nossa convenção social. 
A aquisição do controle esfincteriano é um processo de desenvolvimento neurológico, no qual a criança irá aprender a controlar a musculatura envolvida no ato de urinar. Então vamos falar um pouco sobre o desenvolvimento neurológico da criança. O desenvolvimento motor do ser humano progride de maneira cefalocaudal e proximodistal, ou seja o controle motor será adquirido no sentido da cabeça para baixo e do centro para as extremidades dos membros, além de evoluírem de movimentos simples para movimentos cada vez mais complexos. Dessa forma, primeiro o bebê adquiri a firmeza do pescoço e depois dos ombros e braços, o que irá lhe possibilitar, quando colocado de bruços, elevar primeiro só o pescoço e depois o tronco, e assim por diante, até que possa se sentar e depois andar. Todos esses processos evolutivos e de aquisição de novos movimentos serão necessários para que a criança possa usar o banheiro. Para isso ela deverá ser capaz de andar até lá, retirar suas roupas, esvaziar a bexiga e se vestir novamente. 
Há também outro fator importante nesse processo, que é a capacidade de conter e eliminar a urina de forma voluntária. Ao nascer a eliminação da urina se dá de forma involuntária, a micção é um ato reflexo, ou seja, não há controle voluntário sobre isso, quando a capacidade máxima de armazenamento da bexiga é atingida ( cerca de 30 ml num recém-nascido e em média 60ml em crianças de 1 ano), a urina é automaticamente eliminada.
A partir de 1 ano de vida a aquisição da continência se dá pelo aumento progressivo da capacidade da bexiga (cerca de 30ml a cada ano) somado ao desenvolvimento de uma atuação voluntaria sobre o controle do seu esvaziamento. Nesse período a criança passa a ter consciência da plenitude vesical e reconhece que a micção é iminente, mas ainda não é capaz de controla-la, é nesse ponto que a criança começa a avisar que quer urinar, mas na maioria das vezes não há tempo de chegar ao banheiro. Conforme avança o seu desenvolvimento, a criança se torna capaz de postergar o intervalo entre a sensação de micção iminente e o seu início, adquirindo a capacidade de avisar que quer urinar e chegar a tempo ao banheiro. Juntamente com essa habilidade física, a criança irá aprender a usar socialmente o banheiro. Quando há uma pressão excessiva para esse aprendizado, a criança pode se utilizar de contração de musculatura do assoalho pélvico, gerando incoordenação para a eliminação do xixi. Como para todos os marcos do desenvolvimento, não há uma idade certa para que ele ocorra, e sim há um limite estabelecido para que se fique atento, e investigue se não há alguma alteração física que justifique seu atraso. Sendo assim, o tempo da criança deverá ser respeitado, ela deverá estar apta para realizar uma micção completa antes do treino no banheiro ser iniciado, sem que isso se torne uma punição e acabe por gerar erros nesse processo, que podem levar a problemas futuros como disfunção miccional, constipação intestinal e infecções urinárias de repetição. O desfralde não deverá ser orientado porque a criança completou 2 anos ou porque na escola não se pode mais usar fralda. O desfralde, assim como aprender a andar, deverá ser visto como uma etapa a ser alcançada, afinal ninguém solta a mão da criança porque ela completou 1 ano e agora ela tem que estar andando. Então a aquisição do controle esfincteriano se dá sim por volta dos 2 anos, mas ele pode se iniciar antes e pode demorar até próximo dos 4 anos para estar completo, sem que isso seja um problema. O pediatra deverá acompanhar esse processo, e caso ache necessário encaminhar ao especialista para seguimento.



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